Kenguelekezeee!...
sábado, setembro 04, 2004
"- Kenguelekezeee!... Braços negros erguem-se no ar, mergulhando os dedos enfileirados no prateado leitoso que embacia o céu, partindo do coração da Lua.
- Kenguelekeze!... Eis aqui o herdeiro da coroa! O menino negro - negro não, de prata sim, porque a Lua cheia pintava o rosto angélico, cobrindo-o com o seu manto de prata - cumpria o ritual da lua nova que se realizava na lua cheia por tratar- se do filho herdeiro.
- Kenguelekeze! Eis aqui uma vida nova! Majestosa Lua: recebe esta criatura, esta gota de água que veio ao mundo para ser feliz. Dá-lhe a bênção. Poupa-a das diarreias, doenças nervosas, ataques, quando nasceres, quando encheres e quando morreres, kenguelekezeee!...
O menino nu tremia de frio, suspenso nos braços erguidos das madrinhas. Fechou os olhos, esfregou-os, esperneou, e lançou um jacto de urina molhando a cabeça de uma delas, soltando gritos de protesto.
Com o menino erguido no ar, as madrinhas dançavam à volta da fogueira sagrada. A seguir administraram fumos e drogas purificantes para afugentar feitic,os e maus-olhados. Prepararam-lhe vacinas e amuletos, colares de pele de leão para ter a coragem e a audácia do rei da selva."
Paulina Chiziane, no livro "Balada de amor ao vento"
****************
Paulina Chiziane nasceu a 4 de Junho 1955 em Manjacaze, província de Gaza, tendo crescido nos subúrbios de Maputo, onde estudou.
Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana."Balada de Amor ao Vento" foi o seu primeiro livro, colecção Karingana No 12 da AEMO
- Kenguelekeze!... Eis aqui o herdeiro da coroa! O menino negro - negro não, de prata sim, porque a Lua cheia pintava o rosto angélico, cobrindo-o com o seu manto de prata - cumpria o ritual da lua nova que se realizava na lua cheia por tratar- se do filho herdeiro.
- Kenguelekeze! Eis aqui uma vida nova! Majestosa Lua: recebe esta criatura, esta gota de água que veio ao mundo para ser feliz. Dá-lhe a bênção. Poupa-a das diarreias, doenças nervosas, ataques, quando nasceres, quando encheres e quando morreres, kenguelekezeee!...
O menino nu tremia de frio, suspenso nos braços erguidos das madrinhas. Fechou os olhos, esfregou-os, esperneou, e lançou um jacto de urina molhando a cabeça de uma delas, soltando gritos de protesto.
Com o menino erguido no ar, as madrinhas dançavam à volta da fogueira sagrada. A seguir administraram fumos e drogas purificantes para afugentar feitic,os e maus-olhados. Prepararam-lhe vacinas e amuletos, colares de pele de leão para ter a coragem e a audácia do rei da selva."
Paulina Chiziane, no livro "Balada de amor ao vento"
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Paulina Chiziane nasceu a 4 de Junho 1955 em Manjacaze, província de Gaza, tendo crescido nos subúrbios de Maputo, onde estudou.
Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana."Balada de Amor ao Vento" foi o seu primeiro livro, colecção Karingana No 12 da AEMO